Franqueados multiunidades, o que realmente significa para o sistema de franchising brasileiro?
- douglasnunnes
- 14 de out. de 2019
- 4 min de leitura

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Durante o passar do tempo o sistema de franchising, em sua evolução, foi se adaptando e criando os mais variados formatos nas suas unidades, seja a loja tradicional, assim como o quiosque, grande, médio, pequeno, corners, home based, enfim, opções que permitem muitas possibilidades, o que é bastante positivo. O sistema hoje oferece muitas oportunidades e criam alternativas que facilitam a captação de franqueados, além de promover a entrada no mercado de forma mais competitiva. Porém, o que ocorre se esta diversidade for concentrada em um único operador? Um único franqueado que pode operar uma mesma marca ou as mais variadas, inclusive em mais de um segmento. O que realmente esta concentração significa para o mercado de franchising brasileiro?
Ainda para complementar franqueadores têm optado por estar onipresente, ou seja, estão presentes em lojas, no e-commerce, operam com venda direta e indireta, no modelo store in store, entre outros, com o objetivo de ampliar as alternativas para seus clientes. O que exige do franqueado, atenção redobrada em sua gestão, agora acrescente a este cenário o fato de ter franqueadores estabelecendo metas de crescimento exigentes e em alguns casos têm unidades próprias concorrendo com sua própria rede de franqueados. Num movimento que mostra a intenção de controlar e dar ritmo próprio neste momento em que os canais de vendas se desencadeiam. Em função destes acontecimentos, acredito, que a Associação Brasileira de Franchising (ABF) classificou em documento referente ao desempenho do 1.º Trimestre de 2018, este formato de concentração de unidades em um único franqueado como sendo Franqueados Multiunidades, que podem ser:
Desenvolvedor de área, o franqueado recebe um território para explorar com lojas de sua propriedade;
Master-franqueado, franqueado adquire o direito de explorar uma determinada área, seja com lojas de sua propriedade, seja sub-franqueando algumas unidades;
Sequencial não projetado, o franqueado pode adquirir novas unidades da rede mediante desempenho;
Sequencial projetado, o franqueado já entra na relação com um plano de expansão de suas lojas.
Importante classificar, bem característico do franchising, criando padrões para organizar melhor o crescimento e estabelecer os papéis de cada um. Mas, o que realmente tem acontecido na prática? Como franqueados estão agindo ou observando esta sub-divisão de sua atuação?
Soma-se ainda o fato de termos hoje no sistema de franquia brasileiro uma verdadeira proliferação de marcas franqueadoras, dos mais variados negócios, dos mais variados tamanhos e formatos. Marcas que já nascem projetando seu crescimento através do franchising, outras que desenvolvem projetos baseados nos preceitos do sistema e buscam investidores para iniciar o piloto. O sistema virou a febre do momento, parece que tudo pode ser franqueado, será que pode mesmo? Vale destacar aqui que as empresas que querem franquear suas marcas, devem passar por uma série de etapas consistentes no sentido de ter sua gestão, sua estrutura, seus processos no mínimo eficientes para poder dar todo o suporte necessário ao novo franqueado, de modo que para quem quer investir e se tornar franqueado deve primeiramente procurar um profissional que entenda muito do sistema, para que possa ser assessorado, pois, podem encontrar no caminho, aventureiros aproveitando essa febre em que o franchising no Brasil está bastante energizado.
No que se refere à concentração de operadores conduzindo várias unidades de uma mesma marca ou de marcas diversas, temos que colocar nosso olhar neste movimento que estimula a concentração da gestão em alguns franqueados. Estes por sua vez deve ter em seu perfil, características para realizar investimentos em sua estrutura de suporte e aproveitar ao máximo todos os recursos que a tecnologia oferece para gerar eficiência, também criar uma rotina de análise periódica de desempenho e uma agilidade na tomada de decisões. Por outro lado, cria-se grupos fortalecidos que vão excluindo novos investidores que queiram se tornar franqueados, principalmente se o multifranqueado tiver uma relação bem próxima com o franqueador e resultados de crescimento recorrentes.
Vendo por outro ângulo possibilita que franqueadores criem sua própria estrutura como multifranqueados e passem a operar diretamente, numa atividade que eu diria disfarçada, pois o cerne do sistema de franquia está na captação de investidores para operacionalizar as unidades facilitando a expansão pelos quatro cantos do país. De outro modo, estas operações de multifranqueados conduzidas por franqueadores já existem e abrem campo para serem ampliadas, o que descaracteriza totalmente o que historicamente dita a relação entre franqueadores e franqueados. É preciso ligar o alerta e estar atento, pois este movimento tem acontecido no Brasil e em outras partes do mundo. O ambiente competitivo faz com que se criem alternativas para manter e fazer crescer os resultados dos franqueadores, por outro lado, a busca para encontrar perfis de franqueados com essa “pegada” hoje necessária, se torna desafiadora. O que não pode acontecer é perder a qualidade dos produtos, serviços e também estar sempre investindo no desenvolvimento e capacitação dos franqueados e operadores.
No entanto, há pontos positivos que podemos elencar principalmente se formos considerar do ponto de vista do franqueado. Finalmente há o reconhecimento, pois com o passar do tempo e o crescimento das unidades não havia um apoio formal aos franqueados que investiram e montaram uma estrutura de suporte para sua rede. Outro ponto importante é que franqueados podem ampliar seus horizontes e preparar um plano de expansão mais ousado, inclusive atuar em praças distantes da sua se assim a marca franqueadora permitir, como também investidores, ou grupo de investidores, podem entrar no mercado de franquias de forma estruturada e com projeções de crescimento de longo prazo.
O franchising brasileiro tem evoluído e institucionalizar a atividade do multifranqueado é extremamente importante, o que devemos refletir é quais serão as próximas etapas nesta evolução e mais, será que continuará sendo definido apenas por um dos lados, o dos franqueadores? Como fica então a participação dos franqueados? Vão estar vendo tudo acontecer ou podem ser atuantes nestas inovações? Afinal são os franqueados que operam o negócio na ponta e trazem os resultados para toda à rede, impulsionando cada vez mais este fantástico sistema.
Sobre o autor: Empreendedor, Consultor e Palestrante, atual Diretor de Relações Institucionais – ASBRAF (http://asbraf.com/), Especialista em Franchise pelo Franchising Group, formado em Administração, com MBA em Gestão Financeira, foi franqueado durante 36 anos, 1o. Presidente da Junior Achievement - Paraíba de 2004 a 2006.2, Diretor da Associação dos Lojistas do Shopping Sul de 2005 a 2007, premiado diversas vezes entre eles como melhor franqueado do Nordeste, MPE Brasil e melhor gestão pelo PPQ – Programa Paraibano da Qualidade.
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